Ele
passa com seus cachorros aqui na rua onde moro. Aí vai à praça e fica molhando
as plantas. De uns dias pra cá, reparei que ele começou a plantar algumas mudas
de árvores.
Ele
usa um boné daqueles com propaganda de casa de material de construção, um chinelo
havaiana, um calção surrado e uma camiseta regata. Pela
manhã você sempre o encontra na rua ou perto da praça. Sempre rodeado por seus
cachorros.
Um
dia desses descobri que ele vive sozinho, que não tem filhos e nem família.
Mas
eu achei legal quando disseram que ele não é muito social, não.
E como foi dito por gente daquele tipo que sabe a hora que você chega, onde
você foi e quando você não foi ao trabalho, aí sim é que eu gostei do
sujeito.
Parece
ser o tipo do cara que desistiu. Que abriu mão. Que entregou os pontos. E é legal
ver ele plantando uma árvore. Uma árvore que na certa ele não sentará na sombra
pra relaxar.
Mas
se o cara desistiu, pra quê uma árvore? Sobretudo uma árvore, que representa a
coisa da vida, da história, do conhecimento. Ah, sim. Então ele não desistiu. Entendi.
Nesse caso, a
árvore é a forma que encontrou para mostrar que ainda acredita. É o seu protesto silencioso. Sua
redenção.
Claro,
alguma coisa o fez desistir. Alguma coisa que dói à noite e o faz perder o
sono. Talvez o isolamento seja pra guardar a dor. Um dor tão forte que ele resolveu aceitar e cair
fora. Ficar longe dos durões. Dos que encaram tudo até a mais humilhante derrota. Daquele tipo de gente que
se glorifica por não desistir.
E
ele não teve vergonha de abandonar e desistir.
Essa
é sua vitória.
Ele
plantou uma árvore que nunca sentará na sua sombra.
Te
devemos essa.